sexta-feira, 11 de outubro de 2013



Aranhas e Serpentes:


      O veneno da aranha após ser inoculado na serpente, atua diretamente no potencial de ação das células neurais, bloqueando os canais de sódio (Na+), e impedindo que haja o potencial de ação, com isso não haverá transmissão de sinais do neurônio ao músculo e a serpente fica paralisada. Com esses canais bloqueados, não ocorre a atuação da bomba de sódio e potássio na membrana (maior entrada de sódio que de saída de potássio), deixando o meio extracelular com grande concentração de sódio, e impedindo que ocorra o potencial de ação. A bomba de sódio e potássio é um mecanismo de transporte ativo, onde 3 ions sódio se ligam a uma proteina canal e o ATP promove a energia necessária par mudar a forma desse canal, que por sua vez, transporta os ions através deste canal. Os neurônios motores que inervam a placa motora são responsáveis pela transmissão neuromuscular. O Potencial de ação que ocorre no neurônio motor promove a liberação do neurotransmissor Acetilcolina, que entra em contato com a placa motora e ativa os canais de cálcio para que haja a contração muscular. Então, a toxina que impede o potencial de ação, consequentemente, estará impedindo a contração muscular, explicando assim a paralisia da serpente. As peçonhas das aranhas são caracterizadas por um complexo conjunto de sais inorgânicos, acilpoliaminas e alguns peptídeos. A ação da acilpoliamina, atingem diretamente os receptores ionotrópicos  onde altera o fluxo de Na e Ca+² através da membrana e faz com que ocorra uma perturbação nas sinapses excitatórias. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013



Sobre a Vespa Jóia:

Vespa-jóia Ampulex compressa é uma vespa do grupo dos parasitóides (endoparasitoides), onde os ovos são inseridos pela fêmea com o auxilio de um ovopositor, diretamente dentro do corpo do hospedeiro, neste caso a barata Periplaneta americana. É no tórax, onde estão localizados os aparatos locomotores, como as pernas e as asas, que a vespa faz o seu primeiro ataque. Dessa maneira, após a primeira picada, a vespa consegue fazer com que a barata não apresente um comportamento de fuga, já que perdeu a sua mobilidade devido a ação do veneno. O próximo alvo, e dessa vez muito mais preciso, ocorre na região próximo a cabeça, mais precisamente, na região do forame occipital (“pescoço”) por onde passa o cordão nervoso ventral, onde seus movimentos serão completamente reduzidos e a barata entrará em um estado letárgico. Posteriormente, a vespa consegue ovopositar na sua presa sem que a mesma se defenda ou morra, até a eclosão de mais um individuo de Vespa-jóia.
Mas como acontece?
Após a primeira ferroada, é liberada uma substancia (peçonha) com função neurotóxica onde causará um bloqueio na transmissão sensitiva da substância responsável pelo movimento, a dopamina. A dopamina é um neurotransmissor que regula várias funções nos seres humanos e em outros animais, como o movimento, aprendizagem, atenção, etc. Estão presentes em vesículas que se encontram concentradas no terminal axônio, e quando os impulsos nervosos chegam esse terminal, os neurotransmissores são liberados por meio da exocitose. Dessa maneira, a peçonha da vespa consegue reduzir as atividades locomotoras da barata com componentes antagonistas dos receptores da dopamina, ligando-se a esses receptores sem ativá-los. Os efeitos do bloqueio dos receptores vão agir diretamente na locomoção, já que esta, é ativada através dos receptores D1, D2 e D3.

 A ação da peçonha se dá na interrupção dos impulsos nervosos nos neurônios, eliminando o potencial de ação e não ocorrendo as sinapses (é necessária a transferência dos neurotransmissores da membrana pré-sináptica, para a membrana pós-sináptica). O bloqueio da interação “neurotransmissor-receptor” fará com que não ocorra a abertura de um canal iônico e conseqüentemente não ocorrendo a excitação, com o potencial de membrana ficando em repouso. As células nervosas são especialistas em canais iônicos e a abertura do canal se dará através de estímulos específicos, mas com a ação da peçonha, ocorrerá o bloqueio no espaço intermediado por um ligante extracelular ou um neurotransmissor, deixando a superfície das células responsáveis pelo potencial de ação em repouso, sem que haja um estimulo para que ocorra despolarização e provoque a abertura dos canais de Na+ que formam poros hidrofílicos através das membranas (gap junctions) entre as duas células adjacentes. Há motivos para se creditar relação com outros neurotransmissores, como a noradrenalina, que seria capaz de desempenhar importante função no sistema nervoso central e periférico da barata, mas seria desregulado por circuitos neurais noradrenérgicos (receptores de membrana) e não responderia ao comportamento de luta ou fuga, para livrar-se da predação.

Após o bloqueio dos aparatos locomotores, provocado pela primeira ferroada na região do tórax, a próxima ferroada é bem mais objetiva e atinge a barata na região do cordão nervoso ventral. Ao atingir a cabeça ou nas proximidades, a peçonha chega mais facilmente até o mesencéfalo, é uma região no sistema nervoso central onde a dopamina apresenta uma atividade relacionada com a atenção e orientação. Isso pode explicar a reação “zumbi” da barata não apresentando comportamento de fuga ou reação de defesa. O bloqueio na transmissão sináptica neste momento se torna definitivo. Os impulsos nervos não são mais transmitidos em razão do bloqueio dos receptores dos neurotransmissores e conseqüentemente, não havendo despolarização da membrana, não ocorrerá potencial de ação.

Mecanismos de evolução atuaram nos Hymenoptera, no sentido de condicionar uma estrutura para outros usos, onde o ferrão, funcionando como o aparato inoculador da peçonha, é derivado de um órgão ovopositor. O sucesso evolutivo se deu a partir do momento em que as vespas mais aptas e conseqüentemente, as que possuíam as peçonhas mais eficazes, apresentaram mecanismos para manter a presa viva, mantendo o ciclo reprodutivo e passarem seus genes as próximas gerações. A manutenção da vida da presa enquanto ocorre o desenvolvimento da larva, foi de fundamental importância nesse grupo de vespas. Estudos indicam que além das neurotoxinas contidas na peçonha, outros componentes fundamentais para o sucesso desse grupo cenobionte, foram atuações de peptídeos com ação antimicrobiana para que não haja o ataque de patógenos, como também peptídeos com função antibiótica, o que promoveria uma sobrevida da presa, até a eclosão de um novo individuo.